Dos Sonhos Poemas: Um rapaz com uma maçã a custo equilibrada sobre o ombro fez sem fumo nem bilhete o percurso errado o dia todo; acabou por pagar o máximo que a Caixa Multibanco permitia, quando noitinha chegou à sua terra. - Vemos Camus. Ceamos num recanto do teatro. Seguimos atentos o depoimento filmado em vida do autor reclamando-nos a portugueses e espanhóis descendentes d’incertos carniceiros, e etc., etc., e da importância do por demais debatido bife bovino. Nem reparamos que o figurão usa bigode. Rimo-nos muito quando se supõe não ter graça. Não entendemos patavina quanto ali acontece. Desliza o palco até à rua, e continuamos a peça. Fazemos que nos cumprimentamos, e não dizemos nada. - ‘Um dia, pra Deus, mil anos…’ 111333 milénios volvidos, o sobejamente conhecido poeta, um humano dentre os muitos filhos de Abraham, sic dixit: Já decorreu o lapso de tempo que demorou a extinguir-se a débil luzinha provinda da mais longínqua das estrelas; tenhamos agora revivida consciência do nosso último destino. Os menininhos aprendizes das letras confundiam da cartilha o nome impresso do vate, em tudo igual aos muitos mais nomes, com o do avô lá de casa ou o da andorinha gémea ou o do fiel canídeo, facto que não constituía, para as superiores instâncias, real preocupação: Em qualquer parte dos conhecidos planetas não escasseava a bambinos tempo e tempo pra brincar. Hoje em dia pouco ou nada sabemos quanto aos pormenores relevantes das vidas sumidas dos artistas; no respeitante àquele com quem nos ocupávamos há a anotar ter passado por uns banais constrangimentos: Por não ter escrito nenhum soneto, ou por não haver abraçado a sério a carreira diplomática. - Com ambas as mãos pegando aberto livro, a jovem mulher mãe relê a história firmada. Perpassa as linhas do texto que voz divina ditou. O livro inclui os comuns nomes. Tal lapso demora tempos incomensuráveis. A franzina leitora esclarece a claridade. - Angelo Ochoa
Dos Sonhos Poemas:
ResponderEliminarUm rapaz
com uma maçã a custo equilibrada sobre o ombro
fez sem fumo nem bilhete o percurso errado o dia todo;
acabou por pagar o máximo que a Caixa Multibanco permitia,
quando noitinha chegou à sua terra.
-
Vemos Camus.
Ceamos num recanto do teatro.
Seguimos atentos o depoimento filmado em vida do autor
reclamando-nos a portugueses e espanhóis
descendentes d’incertos carniceiros, e etc., etc.,
e da importância do por demais debatido bife bovino.
Nem reparamos que o figurão usa bigode.
Rimo-nos muito quando se supõe não ter graça.
Não entendemos patavina quanto ali acontece.
Desliza o palco até à rua, e continuamos a peça.
Fazemos que nos cumprimentamos, e não dizemos nada.
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‘Um dia, pra Deus, mil anos…’
111333 milénios volvidos,
o sobejamente conhecido poeta,
um humano dentre os muitos filhos de Abraham,
sic dixit: Já decorreu o lapso de tempo
que demorou a extinguir-se a débil luzinha
provinda da mais longínqua das estrelas;
tenhamos agora revivida consciência do nosso último destino.
Os menininhos aprendizes das letras confundiam da cartilha
o nome impresso do vate, em tudo igual aos muitos mais nomes,
com o do avô lá de casa ou o da andorinha gémea ou o do fiel canídeo,
facto que não constituía, para as superiores instâncias, real preocupação:
Em qualquer parte dos conhecidos planetas
não escasseava a bambinos
tempo e tempo pra brincar.
Hoje em dia pouco ou nada sabemos
quanto aos pormenores relevantes
das vidas sumidas dos artistas;
no respeitante àquele com quem nos ocupávamos
há a anotar ter passado por uns banais constrangimentos:
Por não ter escrito nenhum soneto,
ou por não haver abraçado a sério a carreira diplomática.
-
Com ambas as mãos pegando aberto livro,
a jovem mulher mãe relê a história firmada.
Perpassa as linhas do texto que voz divina ditou.
O livro inclui os comuns nomes.
Tal lapso demora tempos incomensuráveis.
A franzina leitora esclarece a claridade.
-
Angelo Ochoa